12 setembro 2006

Visão limitada do ser humano

O ser humano é de facto um ser consciente incrivelmente limitado.
Não sei se de facto posso, afirmar que o ser humano é algo mais do que limitado. Por isso mesmo no resto de texto que me falta, não me resta senão outra opção do que chamar o ser humano por ser limitado.
A visão do mundo do ser limitado é absurdamente fechada. Na nossa vida a realidade passa totalmente ao lado. Somos cerca de 6 mil milhões de pessoas na terra. No nosso periodo de vida conhecemos quantas pessoas? "Quanta" realidade conseguimos apreender? Sabemos pela televisão algumas coisas que se passam no outro lado do mundo. Mas não as sentimos, logo não as conhecemos de facto. A nossa mente pensa que possui algum valor através do raciocinio só porque adquire conhecimentos através de livros, experiências e tudo mais. Mas no entanto a grande parte é tudo uma ilusão. Sim. Porque de facto o nosso "conhecimento" é pseudo-conhecimento. Para não dizer apenas e só pseudo. Um grão de areia é incomparavelmente maior do que aquilo que conhecemos em relação ao universo, aos outros e nós mesmos. A sério. Eu que escrevo isto agora, escrevo-o mas não acredito nele. Porque? Sei que é verdade. Mas é um pensamento tão abstrato e irreal porque não consigo imaginar a realidade, o que falta nós conhecermos, que não consigo dar-me conta da nossa limitação. Assim não consigo acreditar. Porque acreditar não é concordar. Para acreditar deve ser preciso, julgo eu, defender com alma. Deve ser uma motivação presente da nossa vida. Acreditar tem algo de coragem ou de corencia. Assumir a crença. Senão é apenas uma abstração entre neurónios.
Volto a repetir. A realidade é infinitamente vasta. Quando pensamos nisso, pensamos friamente. A nossa mente visita essa ideia mas de forma tão vaga e desligada que nem faz muito sentido. No entanto no nosso entendimento(entendimento é de facto uma ironia, mas o ser limitado costuma usar esta palavra)passamos a maioria do tempo afastados desta ideia. De uma forma mais ou menos consciente. O nosso orgulho(talvez falta de humildade seja mais correcto) é tanto mais estupidamente desproporcional quanto maior. Nós guiamos os nossos pensamentos de forma TÃO inCONSCIENTEMENTE conveniente. Construimos casas de absurdos paradigmas. A humildade é a essencia do ser humano. Isto porque o é limitado. Ponto. Limitado. E paradoxo dos paradoxos, constata-se que o orgulho e arrogância, que é um estado de espirito que é uma ilusão, é o que está presente na maioria das vezes em todos os seres limitados. Caros amigos e desconhecidos. Limitados. Somos limitados. E a questão é que não nos apercebemos suficientemente disso. Aliás creio que é impossivel na nossa condição o perceber. Limitados. Mas nem por isso sem o direito á felicidade... Mesmo que a felicidade seja na maioria das vezes uma ilusão. Uma fuga. Um entusiasmo por vezes, outras excitação. Ignorancia. No fim, limitação. A felicidade existe estou certo. E creio na minha inútil limitação que está associada ao amor. Agora o que é o amor? Não sei, nem me atrevo a querer formular a sua descrição. Pois cairia no erro de mentir por desconhecimento, consciente ou inconscientemente.

6 comentários:

João Lourenço disse...

Allô grande Fouto! Estou a ver que durante essas semanas em Inglaterra tiveste muito tempo livre para pensar. :)

Mas falando sobre o que escreveste. Eu concordo, em geral, como tudo aquilo que tu disseste. É óbvio que nós como seres somos limitados, limitados à nossa própria inteligência, capacidade física, e mesmo até limitados por aquilo que nos rodeia. Facto!

Mas será isso necessáriamente mau? Ou melhor, será essa limitação algo com a carga negativa que tu quiseste mostrar ao longo do teu texto? O que é não ser limitado? É aspirar a um estado transcendente de conhecimento e de capacidades? É algo de divino?

Para mim o sucesso, em termos de desenvolvimento, da nossa raça como seres humanos, não se deve a um ou dois, ou vinte ou mil seres ilimitados. Deve-se sim ao trabalho conjunto de cada um e ao seu contributo para uma causa comum.

"No man is an island"
John Donne (1572-1631)

Não faz sentido pensarmos no índividuo como algo isolado e sem capacidade para, sozinho, conseguir atingir o auge do conhecimento. Figuras como essas apenas encontramos como figuras centrais das várias religiões por todo o Mundo.

O Homem para evoluir precisará sempre de trabalhar em equipa, de partilhar experiências, de ensinar e de aprender. E o facto de haver, obviamente, uma limitação em todos esses processos, tal não deveria ser entendido como uma frustação mas sim como uma evolução da nossa "ilha", um pequeno passo no nosso "arquipélago" e uma gota de água no Mundo!

Tiago Fouto disse...

Caros amigos... João escrevi mais com o propósito de reanimar o blog. O texto que escrevi foi um bocado á pressa e não muito tratado. Vou responder primeiro ás perguntas do Filipe porque são mais directas, e termino depois pela resposta do João pois está mais perto de aonde eu queria chegar.

80 anos e nunca saiu dessa aldeia.
80 anos, mas que durante toda a sua vida foi caixeiro-viajante, e que nunca parou em lado nenhum.
Qual é o mais limitado?

Depende. Á partida somos tentados a dizer que a 1º pessoa é mais limitada. E deve-o ser na medida de conhecer menos coisas e ter uma visão menos ampla. Por outro lado uma pessoa que nunca para em lado nenhum dificilmente arranja uma companheira e tem filhos e em termos de afectos e relações familiares directa pode ser mais limitada.

Achas que a limitação é a causa da infelicidade?

Sim e não. Não no sentido que o ser humano não precisa de ser um Super-Homem para ser feliz. Sim porque o sentido que dou á limitação é negativo. Mas explico melhor isso mais adiante.

Porque é que dizes que felicidade é a maior parte das vezes uma ilusão?
A felicidade é real!
Um entusiasmo é um momento de felicidade!

É verdade um entusiasmo é um momento de felicidade. Mas tudo na vida há um equilibrio. Um gajo que na vida passe o tempo entusiasmado com o Benfica ou digamos com o Barcelona que ganha mais vezes tem um sentido de felicidade na minha optica limitado. Sentir feliz não quer dizer sentir realizado. E para mim realizado está mais perto de ser realmente feliz. Existem pessoas que são capazes de ser felizes pela desgraça dos outros. Mas o que tiras dessa felicidade também conta. Existem felicidades que desaparecem como a água da praia que apaga as pegadas e outras que ficam. O sentimento é muito enganador. O que sentes é muito egoista e centrado.

O amor gera esse sentimento de piedade. E não só!

Certo. O Amor é muita coisa. Ás vezes pode ser não sentir pena porque pena é um sentimento primário e só está a ajudar essa pessoa a ficar na mesma. Tipo estado natural da sociedade, o coitadinho. Se deres uma descasca podes estar a fazer bem a essa pessoa. O Amor não é só sentimento.

Agora vou mais ao encontro da resposta do João. É verdade, João. O homem não é uma ilha. E ai é que eu queria residir a minha perspectiva sobre a limitação humana. O homem é limitado em muitas áreas. Existem génios brilhantes que se especializam numa área a vida toda. Ex: Fisica quantica de particulas ortogonais(estou a inventar) e que sabe que o conhecimento que desconhece é incrivelmente maior. E existem todos os outros ramos que da realidade humana. Mas não é desta limitação que estou a falar. Estou a falar da limitação em sair de si próprio. De viver no seu mundo. O ser humano vive na maioria das vezes no seu mundo com a sua perspectiva de vida. Não tenta realmente perceber os outros. Julga tão rapidamente e logo controi uma ilusão sobre o outro na medida em que não compreende quem está do outro lado. O ser humano não tem alcance do seus actos nem dos dos outros. E a questão não é só perceber o outro. Mas sim viver o outro. Ir ao encontro do outro. Quando falo do outro devo falar tambem de outras coisas que não humanas. Como o ambiente. O ser humano pensa na maioria das vezes como uma ilha. E na sua limitação trascende-se quando o homem vive a sociedade. Vive aquilo que lhe é exterior. E não apenas os seus sentimentos. Mas sofre de facto com quem sofre. E esforça-se por quem sofre. Começa a desligar as luzes e a não passar tanto tempo no banho porque sabe que os recursos do ambiente não são infinitos. Outra questão é a imparcialidade. O ser humano é muito PARCIAL. Porque ve a realide á sua maneira. Atraves da sua personalidade. Mas só uma entidade extra-humana é conseguiria ser totalmente imparcial.
Mas como humanos que somos também temos a opção de tentar ser mais imparciais. Nunca de um modo total, mas também se treina ou melhor aprende-se e educa. Ver as coisas num sentido colectivo e não conveniente.

Fico por aqui...

João Lourenço disse...

Eu penso que percebo onde queres chegar com a limitação. Na tua prespectiva (e penso que correcta) o ser humano devia caminhar no sentido da imparcialidade, ou seja, na tentativa de partilhar com outros os seus bens materiais, e não só.

Isto seria perfeito...sinceramente julgo que quem conseguisse educar um povo desta forma ficaria rico em 30 segundos. Seria a solução para a quase totalidade de problemas no Mundo. Se cada um de nós desse 1 euro, provavelmente acabariamos com a fome em muitos sítios em África.

Mas então o que falha? Se parece tão simples porque razão é que não resulta? Também não sei... E mesmo que quisesse nunca conseguiria chegar a uma razão, ou duas, ou as que fossem. Mas eu tenho uma pista. Para além dos chamados pecados mortais, como a inveja, a ganância, avareza, etc, eu acho que o que leva as pessoas a "fecharem-se" ao mundo que as rodeia é a dificuldade do seu próprio mundo. Eu sei que é políticamente incorrecto dizer isto, mas, a vida custa tanto a ganhar hoje em dia, as pessoas fazem tantos sacríficios, e depois vão dividir o que obtêm com outros? Louvados aqueles que o conseguem...

Ou seja Fouto, na minha opinião, uma sociedade justa, em que as pessoas fossem bem pagas, tivessem qualidade de vida, seria muito mais fácil penetrar no campo da ajuda ao próximo, de o tentar compreender, ter tempo para acções mais colectivas e menos centradas no próprio ou no seu círculo restrito.

PiR disse...

Falaste na limitação como uma espécie de egoísmo.

"O ser humano vive na maioria das vezes no seu mundo com a sua perspectiva de vida." E de que outra maneira poderia viver?

O ser humano é no fundo um animal como os outros, que busca a sua sobrevivência, o seu sucesso. Um ser tão psicologicamente complexo que até dificuldade tem em entender-se e compreender-se a si próprio. E talvez também isto pareça egoísmo, "mas porquê preocupar-me com os outros se ainda me falta tanta coisa?". E fazem todos o mesmo, todos procuram a sua auto-satisfação, seja ela ganhando dinheiro, tendo amigos que nos façam sentir felizes, seja ela o que for, o ser humano trabalha em função de si (ser individual).

Agora se isto é sermos limitados? O que não é? A vida é, o planeta é, o ar é, até o Universo de alguma forma. Faz parte da natureza das coisas serem limitadas.

Somos como "ilhas", não temos acesso a toda a informação, não sabemos tudo, acreditamos e fazemos pragmáticas do que desconhecemos..., mas o que se pode fazer? Antes isso que deixar de pensar, sonhar...

E quem disse que ser limitado é mau?
Descobrir faz parte de alguém que é limitado, saber algo novo, fugir da monotonia...não é preciso saber tudo e viver-se tudo para se ser feliz.

Cada um vive como pode. E para quê conhecer o mundo inteiro se não se consegue ajudar a todos? Conhecer todos por inteiro?

É facto que nem todos os seres humanos vêem a limitação como algo de transcendente e unificador, um ponto de partida para tentar conhecer o outro, mas há-os que sim.

Sentes-te limitado?
És uma ilha que não conhece todo o mar, mas sabes que ele existe. Não conheces as profundezas, mas conheces a costa. Mas o que é que importa? Conheces os que te rodeiam, fazes o teu melhor pela saúde global, és uma gota no oceano. Mas sem gotas nem oceano havia.


Não sei se percebi bem a tua posição,as pessoas são limitadas, mas podiam mudar isso?!

Claro que sim!Algumas fazem-no, ou pelo menos tentam, mas como disseste (e bem) somos limitados, eu acrescento: não somos perfeitos.

Cumprimentos

João Lourenço disse...

Estou de acordo com o/a Dalman, faz realmente parte da natureza as coisas serem limitadas. O ponto importante é mesmo este :

"...és uma gota no oceano. Mas sem gotas nem oceano havia."

Apoiado.

Tiago Fouto disse...

Quotação do João - Ou seja Fouto, na minha opinião, uma sociedade justa, em que as pessoas fossem bem pagas, tivessem qualidade de vida, seria muito mais fácil penetrar no campo da ajuda ao próximo, de o tentar compreender, ter tempo para acções mais colectivas e menos centradas no próprio ou no seu círculo restrito.

João entendo o teu ponto de vista mas tenho sérias dúvidas em relação á veracidade do mesmo. Constata-se que muitas vezes os mais ricos são os menos solidários. Isto porque estão fechados (ocupados) na sua vida, cuja riqueza lhe permite. E muitas vezes quando dão algum dinheiro, é mais por descargo de consciência (o que, sempre é melhor que nada). Os pobres muitas vezes, o pouco que tem partilham porque sentem na pele a real necessidade e são mais sensíveis por isso mesmo. Outro facto é, creio eu, o espírito das grandes cidades que é gerador de uma cultura individualista. As pessoas vivem ao lado uma das outras, sem se conhecerem. Ao invés que nas aldeias, existe um sentido maior de comunidade aonde as pessoas se sentem inseridas de algum modo num grupo, logo tem uma perspectiva comum. Voltando ás grandes cidades, toda a estrutura da sociedade está fragmentada. Não há um sentido na vida do dia-a-a dia. Casa-trabalho, tudo á pressa. Alguns tentam dar um sentido á sua vida. Uns através de experiências religiosas que são apenas rituais sentimentais, outras que são compromisso com a comunidade desfavorecida e união com um Deus que acreditam. Outros andam á busca sem saberem bem do que encontrar. Outros que não pensam muito nisso, mas como precisam de ocupar a sua vida de algum modo apostam a sua felicidade no Benfica, etc, etc. Poderia continuar, mas não quero perder-me no raciocínio.
João acho que o remeter a questão para o se “uma sociedade justa, se as pessoas fossem bem pagas, se tivessem qualidade de vida, seria muito mais fácil”, apesar de ser verdade, é bastante perigoso. Pois pode tornar uma inevitabilidade e uma desculpa ficar descansado no seu comodismo. Acho que as pessoas pensam demasiado nelas. Tem muitas expectativas em relação á sua vida. Passam muito tempo a pensar em conjecturas, que muitas vezes se contradizem e esbatem. O Filipe percebe o que quero dizer, por realidade virtual (algo que ouvimos em Taizé), temos muitas realidades, possibilidades e muitas vezes nenhuma se realiza. As pessoas deviam ser mais práticas (simples) e viver mais com os outros.
A própria televisão faz-nos centrar sobre os nossos pensamentos. Virtuais. Por outro lado torna-nos seres do hábito. Consequências, adormecimento, apatia e não consciência.



Quotação de Dalman - “Falaste na limitação como uma espécie de egoísmo.”

A limitação pode ser entendida em 2 termos e usei esses 2 termos anteriormente.
O de que somos limitados por natureza. Limitações físicas, psicológicas e de todo o género. E o do sermos limitados por culpa nossa. Que é uma espécie de egoísmo. Porque nos convém (egoísmo simples), preguiça (egoísmo com a sociedade), etc, etc…
Sobre a primeira não queria dar muita importância, apenas dizer que muita gente acha-se cheia de certezas e grandes capacidades, mas simplesmente não conseguem ver as suas limitações. Acredito cada vez mais que o ser humano é um mestre ilusionista que gosta de pintar tudo o que faz para melhor e por vezes irrealistamente mais poético, mesmo que subtil.
Mas procurei e procuro focar o segundo aspecto. Aqui somos mais culpados.
Culpados porque nos limitamos, quando poderíamos ser mais abertos e conscientes.
Procurar ser mais conscientes. Do quê? Da realidade. Realidade? Sim. Do que se passa á nossa volta. Conhecer. Pessoas, problemas. Mas como fazer isso?
O ser humano não é um receptáculo de conhecimento. Não basta ver números e estatísticas. Podemos ver em relação á fome, ambiente, violência, etc e no entanto ficarmos apenas com um conhecimento que é morto. Morto porque não reage. Por outro lado se nos apresentarem as consequências que poderão surgir no futuro e como isso pode alterar as nossas vidas, ou se vermos as coisas como num filme, em que nos identificamos com as personagens, se formos ao encontro dessas realidades através de organizações, associações, se convivermos de perto, apenas por curiosidade que nasce da empatia, tudo se torna diferente. O ser humano deve como imperativo moral procurar conhecer os problemas que nos atravessam a nós como indivíduos e como sociedade. Deve voltar a ganhar um sentido de responsabilidade colectiva proveniente da comunidade local, nacional, mundial, humanitário inter temporal. Porque de facto somos todos herdeiros e construtores de uma história mesmo que, como gotas.


Quotação de Dalman "O ser humano vive na maioria das vezes no seu mundo com a sua perspectiva de vida.” – Sem ligar ao que se passa com os outros. Inconsciente dos seus próprios actos. Perspectiva de vida é única para cada um, mas não necessariamente centrada sobretudo sobre o próprio. Centro de gravidade.
Era este o sentido.

Outra pequena nota.
Algumas pessoas têm noção que o que é “mau” é que é interessante, ou o que o “pecado” é que tem graça. No entanto eu acredito que se as pessoas assim o acham e julgam, o ser certinho não tem piada nenhuma, é porque não estão a ver o quadro todo. Não estão a captar a profundidade do fazer as coisas “certinhas”. Se conseguíssemos ver as coisas pelos olhos de Deus (ver as coisas como Deus as vê) então instantaneamente mudaríamos de opinião. Mas como isso não acontece gratuitamente, temos que continuar a viver, sempre tentando mergulhar mais e não ficar á superfície.

Para acabar, dizer apenas queria reanimar o morto (blog) e resolvi divagar sobre a limitação humana.