26 março 2008

Pessimismo

Revista Exportar ~ Nicolau Santos, Director - adjunto do Jornal Expresso Escreveu:

Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de recém-nascidos do mundo, melhor que a média da União Europeia.
Eu conheço um país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores.
Mas onde outra é líder mundial na produção de feltros para chapéus. Eu conheço um país que tem uma empresa que inventa jogos para telemóveis e os vende para mais de meia centena de mercados.
E que tem também outra empresa que concebeu um sistema através do qual você pode escolher, pelo seu telemóvel, a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.
Eu conheço um país que inventou um sistema biométrico de pagamentos nas bombas de gasolina e uma bilha de gás muito leve que já ganhou vários prémios internacionais.
E que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, onde se fazem operações que não é possível fazer na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos. Que fez mesmo uma revolução no sistema financeiro e tem as melhores agências bancárias da Europa (três bancos nos cinco primeiros).
Eu conheço um país que está avançadíssimo na investigação da produção de energia através das ondas do mar. E que tem uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para os clientes de toda a Europa por via informática.
Eu conheço um país que tem um conjunto de empresas que desenvolveram sistemas de gestão inovadores de clientes e de stocks, dirigidos a pequenas e médias empresas.
Eu conheço um país que conta com várias empresas a trabalhar para a NASA ou para outros clientes internacionais com o mesmo grau de exigência. Ou que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas. Ou que vai lançar um medicamento anti-epiléptico no mercado mundial. Ou que é líder mundial na produção de rolhas de cortiça. Ou que produz um vinho que "bateu" em duas provas vários dos melhores vinhos espanhóis.
E que conta já com um núcleo de várias empresas a trabalhar para a Agência Espacial Europeia. Ou que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de pagamentos de cartões pré-pagos para telemóveis. E que está a construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pouco por todo o mundo.
O leitor, possivelmente, não reconhece neste País aquele em que vive - Portugal.
Mas é verdade. Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses.
Chamam-se, por ordem, Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Primavera Software, Critical Software, Out Systems, WeDo, Brisa, Bial, Grupo Amorim, Quinta do Monte d'Oiro, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Space Services. E, obviamente, Portugal Telecom Inovação. Mas também dos grupos Pestana, Vila Galé, Porto Bay, BES Turismo e Amorim Turismo.
E depois há ainda grandes empresas multinacionais instaladas no País, mas dirigidas por portugueses, trabalhando com técnicos portugueses, que há anos e anos obtêm grande sucesso junto das casas mãe, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal, McDonalds (que desenvolveu em Portugal um sistema em tempo real que permite saber quantas refeições e de que tipo são vendidas em cada estabelecimento da cadeia norte-americana).
É este o País em que também vivemos.
É este o País de sucesso que convive com o País estatisticamente sempre na cauda da Europa, sempre com péssimos índices na educação, e com problemas na saúde, no ambiente, etc.
Mas nós só falamos do País que está mal. Daquele que não acompanhou o progresso. Do que se atrasou em relação à média europeia.
Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito. De nos orgulharmos disso. De mostrarmos ao mundo os nossos sucessos - e não invariavelmente o que não corre bem, acompanhado por uma fotografia de uma velhinha vestida de preto, puxando pela arreata um burro que, por sua vez, puxa uma carroça cheia de palha. E ao mostrarmos ao mundo os nossos sucessos, não só futebolísticos, colocamo-nos também na situação de levar muitos outros portugueses a tentarem replicar o que de bom se tem feito.
Porque, na verdade, se os maus exemplos são imitados, porque não hão-de os bons serem também seguidos?

E já agora atentem à nossa posição neste ranking.

6 comentários:

Tiago Fouto disse...

Sinceramente nao acredito muito neste ranking... ficar à frente de paises como noruega, espanha, canadá e filandia... há aqui gato... e é bem fedorento...

João Coelho disse...

Ridiculo...
Lá por termos coisas boas vamos deixar de apontar o que está mal?!
Também penso que na maioria dos casos o que é cirticado é o estado e não as empresas particulares como as descritas no texto!

Se deixarmos de criticar, estaremos a resignar-nos!

João Lourenço disse...

Isto é a velha questão do copo meio cheio ou meio vazio. Nós Portugueses temos tendência a dizer meio vazio, já os espanhóis têm exactamente a opinião contrária.

Vou só dar um pequeno exemplo sobre a mentalidade espanhola em relação à portuguesa. Nós se estivermos em Espanha e se agradecermos algo a alguém o que dizemos? Dizemos "gracias". O que dizem os Espanhóis na mesma situação em Portugal? Dizem "gracias"...

Claro que haverá sempre coisas más...como há em Espanha, Inglaterra, França, etc. E não devemos deixar de as apontar. O que acho que não devemos é sempre generalizar e acabar com a célebre frase : "Isto está cada vez pior..."

Abraços!

Tiago Fouto disse...

isso não é bem verdade... há estrangeiros que dizem obrigado. Além do mais acho que é bom sinal dizermos na lingua dos outros; é entrar na cultura dos outros e um sinal de simpatia e não de arrogância.

João Coelho disse...

Eu não percebi a analogia do "gracias" :) mas não faz mal... Contudo eles dizem sempre "gracias" porque não sabem mais nenhuma língua além de espanhol!

A frase "isto está cada vez pior" é apenas uma forma de expressão.
Se temos todas aquelas empresas tão boas, porque razão não se vêm melhoras significativas? Se calhar, em termos relativos, isto está mesmo cada vez pior :)

Bom, a verdade é que a maioria dos serviços e produtos daquelas empresas não é usado cá. Lembro-me por exemplo do sistema automático de detecção de fogos que foi instalado na Arrábida (penso eu) e está inoperacional desde essa altura... Um dos poucos produtos revelação nacionais que chegou à fase de instalação e nunca foi usado! Bem, temos sempre o mulibanco e a via verde :)

Acho que não faz muito sentido pensarmos: "Pago impostos consideráveis, tenho um péssimo sistema público de saúde, um mau sistema público de educação, serviços, transportes, etc... Mas não me importo porque há muitas empresas portuguesas que fazem cenas bué fixes para outros países!" :)

E já agora, o IVA em espanha é de 16% :)

Tiago Fouto disse...

Bem em relação aos transportes não sei se os nossos transportes são assim tão maus... Também não tenho assim muita experiência. Andei em itália e lá nao me pareceu que fossem melhores do que cá, bem pelo contrário... Em Inglaterra também são bastante semelhantes, tirando o metro que é MUITO melhor...muito mais linhas que se cruzam umas com as outras...(não é só o facto de Londres ser maior). Assim não creio que Portugal tenha assim transportes bastante maus... Mas também não tenho assim tanta experiência a comparar com o estrangeiro... Claro que há zonas em que certos transportes podem ser melhorados...