13 outubro 2004

Liberdade II

Liberdade, o que é liberdade? Muitos definem liberdade como a possibilidade de se fazer o que se quer, quando se quer. Liberdade de realizar os nossos desejos. Mas na realidade poucas vezes isso se passa. Existem certas condições que precisam de ser preenchidas. Uma delas é garantir a nossa sobrevivência. Para isso é necessário trabalhar. Ora a maioria da Humanidade tem que passar por essa experiência mais cedo ou mais tarde, com excepção de alguns meninos ricos inconscientes que não precisam de fazer nada (foi por esta espécime que empreguei a palavra maioria). De seguida existem outros seres humanos para os quais ou temos responsabilidades ou nos é pedido ajuda. Nota-se também que a liberdade de acção vai desaparecendo com a idade. Assim um adulto tem compromissos com a família, que lhe “roubam” o tempo que até então tinha para si próprio. Depois há o facto já mais debatido que é o de as nossas acções poderem interferir com a liberdade dos outros. O que fazemos condiciona a vida das outras pessoas. Talvez na maioria das vezes nem sequer nos demos conta, mas praticamente todas as pequenas acções que executamos no quotidiano tem precursões na vida das outras pessoas. Se parássemos para reflectirmos a fundo verificaríamos que de facto assim é.
Assim parece que resta muito pouco espaço para a liberdade. Então a liberdade é limitada. E de facto o é. Sem dúvida que temos liberdade para escolhermos a nosso(a) companheiro(a), cor partidária, religião ou falta dela, liberdade de expressão, etc. Era o que faltava isso não ser possível. E infelizmente isso não é possível em muitos países. Esta é a liberdade básica, ferramenta necessária para poder começar a construir a nossa vida.

É assim que é a vida. Mesmo o facto de nascermos e morrermos não nos cabe a nós escolher (quase sempre).
Liberdade total não existe. De facto como diz o João Coelho” só existiria "liberdade total" se cada um de nós vivesse isolado num universo e não conseguisse interferir com mais ninguém...”.
Não à volta a dar. Por muitas voltas mentais que queiramos dar, somos sempre confrontados com coisas que temos que fazer e que nem sempre são da nossa vontade.

No entanto para mim, ser-se livre é sentir realizado. A aspiração que todos desejamos é a de ser felizes, e não de ser livres. Ser livre é uma das condições para ser feliz. Sentir-se realizado, é poder-se realizar em todos os campos: socialmente, intelectualmente, afectivamente, espiritualmente, artisticamente, etc.

A felicidade e noção de liberdade parte do ponto de vista de cada um, para dar o exemplo do trabalho, o ter que acordar cedo, etc. Todos temos que trabalhar, mas se gostarmos do nosso trabalho, se fizermos algo que nos estimule, e se virmos os frutos concretos do nosso trabalho na sociedade nomeadamente na empresa, na escola ou aonde for, verificamos que o nosso trabalho interage positivamente nos outros, então trabalhar passa a ser também gratificante e satisfatório para deixar de ser apenas uma questão de sobrevivência. Quanto mais noção, tivermos do quadro completo, verificamos que todos os aspectos estão relacionados entre si e que a liberdade está directamente ligada com todos os outros aspectos da vida, e com o modo como nos relacionamos com os outros.
Nasce então a ideia que todos somos também responsáveis por todos, somos interdependentes, é uma ideia já muito conhecida mas devido ao nosso egoísmo, essa ideia muitas vezes não visita a nossa consciência e acaba por tornar-se num cliché banal, e abstracto.
Podemos dizer então que somos seres que se completam no relacionamento inter-pessoal, e que por vezes se abdicamos da nossa vontade momentânea estamos a faze-lo para o bem comum.

Outro aspecto de se ser livre, é ter a coragem de ir contra a maré quando necessário. Não estar sujeito a pressões exteriores e agir conforme a consciência e as suas ideias. Um trabalhador que cede à corrupção pode estar a lucrar pessoalmente com isso. Mas no entanto interiormente está a comprometer a sua dignidade e a liberdade de dormir descansado de noite. Se com o hábito aprende a dormir descansado, é um problema dessa pessoa e não vou inclinar-me agora sobre aspecto. A liberdade também se constrói e mantém-se. De novo, ser-se livre é sentir-se realizado e para isso é necessário esforço. É ilusão pensar o contrário. Adquirir liberdade, significa um caminho pessoal com obstáculos que é necessário ultrapassar. Mas se esse caminho só pode ser percorrido por cada um, existem outros caminhos que se cruzam nas nossas vidas e que de quem nós chamamos amigos, família, enfim todo o Outro.

3 comentários:

Anónimo disse...

Oh Tiago escreveste imenso!!!!!:)

Falavas algures sobre o SER feliz e o SER livre!

O que deixo aqui é uma citação de um livro muito antigo que se chama Biblia. Eu sou católica e hoje na reunião de jovens lemos este pedaço que aqui transcrevo e creio também ir ao encontro do tema...

" Jesus viu as multidões, subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se e Jesus começou a ensiná-los: « Felizes os pobres em espírito, porque deles é o reino do Céu.
Felizes os que choram, porque serão consolados.
Felizes os mansos, porque possuirão a terra.
Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Felizes os que são misericordiosos porque encontrarão misericórdia.
Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.
Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino do Céu.
Felizes de vós, se fordes insultados e perseguidos, e se disserem toda a espécie de calúnia contra vós por causa de Mim. Ficai alegres e contentes porque será grande para vós a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vós."

São Mateus 5, 1-12

Um beijinho,
Madalena

Anónimo disse...

A liberdade é usar todas as ferramentas ao vosso alcance para se promoverem. A liberdade é serem topados e os vossos golpes reverterem contra vós.

Anónimo disse...

A liberdade... é tanta coisa!

É construir um blog e depois deixá-lo morrer! Ou porque perdemos a motivação, ou porque os temas não me interessam, ou porque falar facilita a comunicação, ou porque não vale a pena, ou porque já não precisamos deste tipo de alimento intelectual!

Tenho andado à espera! Voçês são tantos! Pareciam motivados! Mas quer dizer........................o que motiva?!?! São as discussões e contratempos?!? Ou são so temas realmente importantes em debate!?!?

Eu quero mesmo é provocar-vos. Tou à espera que venham cá responder-me... ou então que introduzam outro tema... ou então que contem histórias, ou então que escrevam sobre religião, sobre a taxa de natalidade que é tão baixa, ou sobre as relações humanas, ou sobre o namoro, ou sobre o casamento, ou sobre a guerra do Iraque, ou sobre o conflito Israel-Árabe, ou ainda sobre o Cardeal Português Dom José Policarpo ser considerado o nº6 para próximo Papa, ou então escrevermos sobre os países mais pobres do mundo e suas causas, ou ainda sobre a greve que durou meses na Venezuela, ou então se escrevessemos sobre o trabalho infantil em Portugal, ou sobre a alcoolização de menores, para que estes possam roubar e não serem presos, então e se escrevessemos sobre as minorias étnicas!!?!?!?!?

RAPAZES... este espaço é de quem!?!? Deixam-no morrer!?!?!? Voçes são tantos!!!!!!

É só para vos dizer também que eu continuo disponível para crescer convosco. Depende de todos Nós.

Um beijo,
Madalena